Com o intuito de proporcionar aos médicos cooperados uma oportunidade de atualização, principalmente para os que não puderam participar de congressos e do último Jalagipe, a Sociedade de Anestesiologia do Estado de Sergipe (Saese) realizou no sábado, 27, um Curso de Educação Continuada, com o tema “Terapia Guiada por Metas”. Segundo o presidente da entidade, Danilo Lima, o assunto escolhido é um dos mais concorridos em todos os congressos e eventos. “Com essa discussão proporcionamos aos participantes uma experiência de imersão, um só tema, mas com uma ampla discussão e bastante aprofundada, coisa que não se tem em um congresso, por exemplo,” explicou.

As aulas foram ministradas pela professora, doutora Laís Helena Navarro e Lima, da Unesp-Botucatu/SP, que elogiou a iniciativa da Saese. “Excelente e única iniciativa, essa é uma chance em que a gente pode lançar mão de conhecimentos. Hoje nós temos muitas informações na anestesiologia e precisamos de eventos como estes para nos atualizar e fazer o melhor para o paciente”, ressaltou a palestrante.

Com relação ao tema da aula, Laís Navarro explicou que dentro da anestesiologia é um dos assuntos mais comuns e mais difíceis de trabalhar. “Reposição Volêmica é aquilo que fazemos todos. Podemos até não fazer raqui todos os dias, mas dá volume pro paciente, dá um soro, pegar uma veia, fazemos todos os dias. E por ser uma prática diária, nós deveríamos ter um conhecimento abrangente do assunto e a maioria das pessoas não tem, principalmente porque coisas novas surgem todos os dias na literatura”, disse a palestrante.

A professora Laís Helena destacou que o conhecimento faz toda a diferença durante um procedimento cirúrgico. “É um dos 23 passos fundamentais para que o paciente evolua de forma melhor, principalmente para os pacientes submetidos a cirurgias mais prolongadas, a exemplo de uma retirada de um câncer”. Quanto à contribuição da formação acadêmica, Dra Laís Helena Navarro ressaltou que está melhor mais ainda deixa a desejar. “Lá em Botucatu, dentro do curso de anestesia que os alunos fazem durante a graduação, tem um módulo só de Reposição Volêmica, exatamente para chamar a atenção para a importância que esse assunto tem”.

Segundo a palestrante, até bem pouco tempo a conduta era: “Ah, vai lá e dá um sorinho. E era delegada à pessoa menos experiente da equipe, porque era só um sorinho, não era um antibiótico, não era um remédio que ia mudar a pressão e tal. A gente tenta introduzir isso na graduação, na importância que isso tem no tratamento do paciente”, afirmou.

Após as aulas, a discussão sobre como fazer Reposição Volêmica por metas na “vida real” com recursos escassos, foi provocada pelo anestesiologista Lucas Cabral. Segundo o especialista, tanto o Estado quanto o Município alegam crise financeira grave, o que aumenta as limitações. “Entre as dificuldades, a gente constata, por exemplo, que dispositivos tanto para monitorização ou infusão de soros fisiológicos, os volumes, etc, estão cada vez mais escassos nos hospitais públicos, poucos recursos e isso é um absurdo. Deixa muito a desejar em questões materiais”.

E como consequência, alegou o médico isso acaba comprometendo a atividade profissional. “Nós temos que nos desdobrar para tentar fazer um cuidado do paciente mais adequado e também acaba prejudicando o paciente, precisamos de uma medicação e não temos e aí gente tem que fazer adaptações e em Medicina isso não deve acontecer”, explicou

Para o anestesista José Eduardo de Assis, vice-presidente da Saese, o monitoramento com equipamentos adequados poderá reduzir o tempo e o custo hospitalar do paciente. “Por isso convidamos para participar deste evento gestores de hospitais públicos e privados, para que tomassem conhecimento que esse tipo de acompanhamento só traz benefícios para o paciente, associado à redução de custos. Sergipe está muito atrasado no uso dessa tecnologia”, explicou.

Durante o debate e diante das constatações das dificuldades relatadas, os profissionais decidiram elaborar dois documentos que farão a diferença no exercício profissional. “Foi aprovada a elaboração de Protocolo de Condutas, que auxiliará os médicos anestesistas a tomar decisões e agir de forma sistemática em casos de pacientes graves,” explicou Danilo Lima.

Já o segundo documento, diz respeito às condições mínimas e necessárias na rede pública hospitalar de urgência, para atender os pacientes graves. “Aqui identificamos mais uns oito itens como soro, catéter, monitorização, etc, coisas mínimas que não envolvem grandes custos e precisam ser priorizadas urgentemente,” afirmou o presidente da Saese.

O que se conclui, segundo Danilo Lima, é que em pleno século XXI, com os recursos atuais e com a tecnologia disponível, em Sergipe se trabalhe numa situação de 50 anos atrás. “Nós precisamos avançar, nós precisamos melhorar o atendimento ao paciente. Vamos reunir as entidades médicas e com nossa união, com nossa experiência e como estamos na linha de frente, temos que exigir dos gestores e isso vai envolver esforço e dedicação” enfatizou.

O presidente da Saese, deixou claro que não se quer promover aumento de custo e sim otimizar o uso dos recursos. “Em algumas situações, o necessário é apenas uma substituição de produtos ou direcionamento dos estoques para os locais onde eles realmente são necessários. Com essa proposta, a ideia é oferecer menos riscos para os pacientes, criar menos morbidade, menor tempo de internação e rápida recuperação e consequentemente menor custo. Com isso estamos assumindo uma responsabilidade pra oferecer benefícios para todos,” concluiu.